Thursday

curaçauuuummmmmmmm!!!

falar do Jarek me fez lembrar dos zeladores que tivemos em Paris. no último lugar onde moramos, em Porte d'Orleans, era um casal de espanhóis, contrariando a regra de 99% dos prédios da cidade. em Paris, zelador é sinônimo de português... este casal era simpaticíssimo e super solícito, então não tem graça falar deles porque só vou poder elogiar, hehe. já a zeladora que tivemos em Montparnasse...

infelizmente não lembro o nome da portuguesa, mas a bigoduda tinha desafetos espalhados por todo o prédio, franceses são muito sensíveis à cheiro... de comida, of course! e todo santo domingo a tuga empesteava o céu e o inferno com a sua tradicional caldeirada de sardinha, era vomitivo! nos disseram que antes era muito pior: a tuga reunia o povo de trás dos montes e fazia sardinhada no pátio interno do prédio, os apartamentos ficavam defumados de peixe. começou a ter briga e a francesada ameaçava cuspir pela janela para apagar a brasa, então ela desistiu e trocou o churrasco pelo ensopado dominical. o povo acalmou porque afetava apenas os apartamentos mais próximos do térreo. nós morávamos no 2º andar...

um dia tivemos que buscar um pacote que o carteiro havia deixado com ela. a gente teve que se controlar pra não fugir porque quem abriu a porta era uma versão do tio Chico da família Adams! a tuga apareceu careca (portanto ela usava peruca) e meio que tapava as vergonhas apenas com uma toalha úmida, mal colada ao corpo. metade dos peitos estava pra fora e do avesso, uma profusão de pêlos não deixava eu distinguir onde começavam as franjas da toalha, se é que aquelas franjas eram mesmo da toalha... se as irlandesas são piores (ou melhores, vai de gosto) só desmatando com uma foice bem afiada! bom, pegamos o pacote e saímos correndo, depois disso avisamos ao carteiro para nunca mais deixar nada com ela, a gente preferia retirar no correio mesmo, hehe.

detalhe: ela "tomava banho" na pia da cozinha! a porta de vidro vestia apenas uma cortina transparente e a pia ficava bem ali, exibindo-se pra quem não abaixasse a cabeça por distração quando passasse em frente do apartamento. a luvinha do banho ficava pendurada na fechadura da porta pra quem quisesse ver. ela realmente apreciava dividir sua intimidade.

durante a semana, perto do meio-dia, éramos chicoteados com o mesmo grito agudo:

- Curaçãuuuuuuuuuuuummmmmmm!!!

era ela chamando a neta, que morava num dos apartamentos acima do nosso, pra ir pra escola. como alguém bota o nome de "Coração" numa criatura? só os tugas! fora que eu demorei muito pra entender que era isso mesmo, até que encontrei com a filha dela, que também trabalhava no prédio, e perguntei o nome da tuguinha.

e quando a tuga ia recolher as lixeiras da rua? se o tempo estava bom, ela ficava abraçada com a lixeira enquanto conversava com as outras concierges vizinhas... eu vou morrer sem nunca entender isto. como alguém passa horas conversando abraçado com uma lixeira? a vida realmente nos prega peças...

mudamos de lá num sábado de maio e no mês seguinte fomos buscar a correspondência. a tuga não abraçava mais lixeiras e nem abria a porta de toalha: para nossa surpresa estava morta e enterrada! a causa da morte? curaçãuuuuuuuuuuuummmm! isso, ela tinha morrido de ataque cardíaco. que deus a tenha sardinhando pela eternidade, hehe. espero que a tenham enterrado com a peruca chocolate, era a que lhe caía melhor.

p.s.: eu não gosto de sardinhas, mas no Bar Breton, um restaurante francês especializado nas tradicionais crepes de trigo sarraceno, tem uma entrada deliciosa, nem parece sardinha de tão suave que é o sabor. no dia que jantamos lá teve um surto coletivo: num dado momento absolutamente TODO MUNDO começou a tossir e a lacrimejar sem parar, achamos que era um ataque de anthrax ou algo do gênero, mas os garçons foram acalmar os clientes avisando que a coifa estava com problema e a gente estava respirando o poivre que o chef estava usando ... foi uma loucura, mas todos sobreviveram. quer dizer, eu acho, né?

Bar Breton
254 Fifth Av
barbreton.com

Tuesday

big brother Jarek

Jarek, o zelador do nosso prédio, é um polônes de quase 2 metros de altura que carrega sozinho uma geladeira sem perder o fôlego. apesar do sotaque, ele fala inglês perfeitamente, ao contrário dos seus amigos de colônia que eu já tive a oportunidade de conhecer. ele tem bastante trabalho, afinal cuida sozinho do edifício que tem 60 apartamentos. quando eu digo sozinho é porque ele faz absolutamente tudo: trocar lâmpada, botar o lixo pra fora, receber as encomendas dos moradores e entregar pessoalmente a noite, chamar encanador, fazer reparos elétricos, etc. a gente, por si, não pode fazer nada, tudo precisa passar por ele. Jarek é do tipo que antes de você conseguir terminar de dizer "thank you" ele já desapareceu da sua frente há muito tempo; por mais que eu aprimore a técnica de agradecê-lo em milésimos de segundos, eu nunca consigo vencê-lo, hehe.

logo que mudamos pra cá, eu reciclava as coisas do mesmo jeito que em Paris. um dia ele me disse: "você recicla demais, tal e tal coisa não se recicla". eu contei pro Mario e a gente ficou imaginando como ele saberia se nunca estava presente quando eu levava o lixo... uma vez deixei o Gummi passeando no quintal, mas ele resolveu escalar a árvore do vizinho do outro prédio, o que me deixou muito preocupada. Jarek apareceu do nada e perguntou se eu precisava de ajuda com o gato... outro dia ele disse que não era para eu apagar a luz da lavandeira quando saísse, que as luzes precisam ficar acesas 24 horas por dia... mais uma vez mistério! daí eu vi que ao lado do elevador, no sub-solo, onde ficam a lavanderia e a lixeira do prédio, tem uma câmera disfarçada e acenei pra ela. no dia seguinte, enquanto pegava a correspondência, Jarek apareceu e disse: quando vc estiver na frente da câmera não é para ficar brincando de fazer tchauzinho, HAHAHAHAHAHAHAHA!