Tuesday

unidos na selva























tenho visto vários editoriais com muita palmeira, árvores altas, pau d'água e costela de adão; se tem mato é fashion! os lugares são exuberantes, as roupas nem sempre, mas a mesmice de ver este tipo de paisagem ficou meio irritante. eu sei que tudo isso é pra fazer referência às influências africanas que marcaram os desfiles de primavera-verão 09, mas cansou, né? não pela vegetação, que eu adoro, mas pela falta de criatividade de se pensar algo diferente, África é só isso? bom, se acham que Brasil é só bunda e bala perdida, então a África saiu ganhando. a gente reclama, diz que o povo não tem imaginação, mas acontece nas melhores castas de fotógrafos europeus.

as fotos acima são dos editoriais da sueca Camilla Akrans para a New York Times Style e do Juergen Teller para a W, num trabalho que preenche lindamente as grandes páginas da revista. a W até que surpreendeu, afinal ela tem sido basicamente uma revista de anúncios. a "folhinha laranja" da foto é a Devon Aoki, mas tem também a Raquel Zimmermann em poses inacreditáveis, a foto dela equilibrando um galo numa das mãos é dolorosa! ela também foi a estrela da campanha do Marc Jacobs, fotografada pelo mesmo alemão, num clima bucólico.

















o ensaio de Jean-Baptiste Mondino para a New York Times Style seguiu a trilha da roça. Milla Jovovitch sobe-desce-agarra-trepa em árvore. nesta foto ele está usando um inacreditável vestido do Roberto Cavalli que deve estar desacordado até agora se recuperando de algum traumatismo craniano. o estilo pueril do vestido não tem nada a ver com o costumeiro exibicionismo do italiano. ah! o jesus crucificado di costas na palmeira não é o da luz e veio da Urban Outfitters. toda a ambientação do catálogo de primavera-verão foi com vegetação tropicaliente.


os holandeses Inez van Lamsweerde e Vinoodh Matadin, deram um ar tropical-poser para a campanha da Gucci, mais poser que tropical é verdade, mas é Gucci. eu penso que deve ser muito chato fotografar para uma marca dessas porque no geral você está numa camisa de força com pouco espaço para criação. vendo os outros trabalhos da dupla dá a impressão que foi isso mesmo que ocorreu.






por fim, mas certamente não o último, a Vanity Fair apresentou o editorial ilustrado African Queens, usando a mesma temática. eles têm o mérito de ser a Ú-N-I-C-A publicação que escalou modelos negras, ainda que em desenho... (o diretor de moda e estilo da Vanity Fair, Michael Roberts, é negro). adoro isso, o povo se inspira na África e só bota caucasiana, tsk, tsk. eu acho que seria mais interessante vestir as modelos com o tecido dos vestidos, mas tudo bem, pelo menos eles tentaram uma outra abordagem.


se eu soubesse que a moda iria cair nisso teria feito umas comprinhas em Barbès, aposto que a Louis Vuitton fez pesquisa pelo bairro parisiense e depois disse que foi um minucioso e extenso trabalho por tribos africanas... sei, sei...

Saturday

meu passado me redime

nesta semana que passou, o U2 esteve todos os dias no programa do David Letterman para divulgar o novo trabalho, No Line on the Horizon. isso tudo me fez lembrar do pesadelo que foi na MTV quando a banda foi para o Brasil pela primeira vez, em 1998. eu era redatora do Promo, o departamento responsável por todas as chamadas, campanhas e vinhetas da emissora e fui a escolhida para fazer toda a campanha do U2, que a MTV estava promovendo. era uma quantidade de trabalho absolutamente insana porque tinham vários programas inteiramente dedicados aos irlandeses e ainda um countdown avisando quanto tempo faltava para os shows, tudo com muito superlativo, eu diria hiperlativos: "a maior banda da face da Terra, do sistema solar, de todo o universo, a preferida de deus..." eu já tinha decorado o dicionário de sinônimos neste quesito e as chamadas não terminavam, o U2 estava me deixando histérica, aliás todo mundo que estava trabalhando com eles só reclamava, era falar U2 que o povo surtava!

por todo o trabalho e intensa dedicação, hehe, ganhei ingressos para ir ao show no Morumbi e ainda um carrinho de supermercado amarelo super fofo, que era o brinde da turnê PopMart. eu devia gostar mesmo do carrinho porque o mantive até mudar para Paris, em 2005. isso porque desde 1998 ainda troquei 5 vezes de endereço. o carrinho era ótimo para guardar os brinquedos da Frida e depois do Gummi. em Paris, quando via os mendigos empurrando seus carrinhos de supermercado pelas ruas com todos os seus pertences, eu lembrava do carrinho amarelo, aquele sim era fashion, uma coisa SDF* de Harajuku.

neste "remember the time", veio a cena da loucura que aprontei no Morumbi, eu realmente não tinha muitos parâmetros de perigo nesta época, eu enfrentava qualquer coisa sem medo. tinha um grandalhão do lado da onde eu estava que se aproveitava do seu corpo de armário atropelando as pessoas. ele andava pra frente e pra trás, imitando o Bono, chacoalhando uma jaqueta que batia em mim toda hora. eu estava ficando muito irritada e toda vez que ele encostava em mim eu o chutava com o coturno, eu sempre ia a shows de coturno justamente para estes inconvenientes. mas meus chutes estavam passando desapercebidos, ele continuava com a sua micagem. então parti para uma tática menos sutil e arranquei a jaqueta dele e joguei o mais longe que pude! ele se preocupou mais em sair correndo para resgatar a jaqueta e nem viu que tinha sido eu. então ele voltou e continuou com a patetada... bufando fui até ele, arranquei a jaqueta e disse que ia jogar pro outro lado se ele não parasse, que aquilo estava me incomodando imensamente e que eu não conseguia ver nada do show, que ele era um egoísta patético e bêbado, descarreguei a TPM inteira. ele ficou olhando pra mim fixamente e quando eu pensei que ele poderia dar um soco bem no meio da minha pêra, ele pediu desculpas e ficou quieto... ai, que gente mais sem interação! HAHAHAHAHAHAHA!

* em francês, SDF é a sigla para "sans domicile fixe".

Monday

guarde bem este nome


tem um bairro no Brooklyn, Bed-Stuy para os locais, que não é muito simpático com brancos. um casal de amigos branco-neve quase foi atingido por uma tijolada arremessada de um dos prédios, outro cor de leite foi pego em cheio por bexigas d'água. um brasileiro desavisado, que só porque veio do ABC acha que é malaco, foi morar lá. ele até que é jambo, mas a namorada é oxigenada e levou uma bexigada d'água no primeiro dia que saiu sozinha. histérica ligou pro namorado que foi perguntar pro povo do trabalho se aquilo era normal. a resposta que ele ouviu depois de informar que morava em Bed Stuyvesant: "mas foi só água? agradeça que não era merda!" HAHAHAHAHAHA! mesmo assim ele decidiu ficar, afinal paga U$1,100 num apartamento de 2 quartos, coisa que num bairro, digamos, mais friendly do Brooklyn, não saíria por menos de U$2,000. mas ele enfrenta outros tipos de problemas, por exemplo: nenhum táxi aceita levá-lo pra lá, a não ser que ele pague o dobro e adiantado... ele também perdeu a namorada, hehe, que preferiu voltar para a traquilidade do ABC.

abro um parênteses pra dizer que eu sou uma das pessoas mais perdidas do mundo, tenho a capacidade de pegar a direção errada sempre! como eu já me acostumei com esta particularidade, não me irrito mais, o problema é quando tenho que levar alguém a um lugar que não conheço bem... eu já aviso antes que vamos nos perder, etc e tal.

uma amiga que morava em Los Angeles veio pra Nova York e queria conhecer Williamsburg, o bairro super-hiper-hype do Brooklyn. tem lojas muito legais e é onde a modernidade passa a noite. como não tem uma estação de metrô que chama Williamsburg (hehe), eu não tinha como fugir ao meu destino. olhei o mapa e achei que Bed-Stuy fosse a estação mais próxima. nesta época eu estava aqui há 7 meses e não sabia das histórias que contei logo acima...

saímos da estação, olhamos para um lado e para outro, nenhum sinal de hypismo. seria mais pra lá? no outro quarteirão? na rua de trás? muitas perguntas e um calor mongoliano naquele dia de junho. um negro, de lenço branco amarrado na cabeça, encostado na saída do metrô, era o único que nos observava. perguntou o que estávamos fazendo ali. as patzas respondem que estão procurando umas lojas... o anjo de ébano dá um sorriso gentil e diz que não vamos achar loja alguma, que ali não é lugar pra gente como a gente (ele não disse "brancas" pra não ser acusado de racista, claro!) que é pra irmos pra Williamsburg, que vamos gostar mais de lá. eu olho de novo de um lado pra outro e ele insiste para irmos embora logo!

descemos para a estação e liguei para um amigo pedindo informações:

amigo - onde vc tá?
eu - Bed alguma coisa, um nome estranho...
amigo - BED STUY? VCS TÃO EM BED STUY? VCS PODEM SAIR DAÍ AGORA MESMO?
eu - nossa, que coincidência, um cara acabou de dizer a mesma coisa pra gente! HAHAHAHAHAHAHAHA!

desliguei e disse para a minha amiga que naquele dia o povo estava muito estressado, talvez fosse o calor... depois soube das histórias que o povo do bairro do Mike Tyson (já sei onde e como ele começou a bater) adora tacar coisas estranhas em branquelos.

o negro, certamente local, foi um amor e super simpático. em nenhum momento eu imaginei que estivesse num lugar de risco. se tacassem bexigas d'água na gente eu iria achar que era para comemorar o calor, HAHAHAHAHAHA! é o que eu sempre digo: a ignorância pode ser uma bênção!

p.s.: no ótimo policial "French Connection" (passou na TV ontem o 1 e o 2 em seguida), Gene Hackman interpreta o explosivo detetive de narcóticos, Jimmy "Popeye" Doyle, que trabalha justamente na NYPD de Bed-Stuy. esse foi criado no bairro!

o filme é de 1971 e em 1972 surgiu em Londres a primeira loja de roupas da French Connection, que atualmente tem filiais em vários estados americanos, além da Europa, Japão e Austrália. a cara da marca tende a ser mais moderna do que se encontra na loja, mas costuma ter peças interessantes. os preços são equivalentes aos da Banana Republic, um pouco mais caro que a Gap. a filial mais charmosa de Nova York, são 3 no total, é a do Soho.

French Connection
435 West Broadway