Thursday

Wednesday

um banho pontiagudo

dia desses estava procurando uma cortina nova para a banheira quando me espetei com isso, hehe.

"Spiky" é uma cortina que pretende ser eco-friendly, idealizada pela britânica Elisabeth Buecher, uma apaixonada por tecnologia inflável. funciona assim: enquanto vc toma o seu banho (esqueça o "relaxadamente") e o tempo passa, os espetos vão inflando feito ambientalistas enfurecidos.

então, se você for brasileiro e apenas cumprir o ritual básico da sua ducha rotineira, terá que lutar com as espetadelas do impetuoso Green Warrior, como a designer têxtil define sua criação.

mas qual seria esse banho ideal livre de espinhos? parcos e ligeiros 4 minutos!!! assim não dá nem para lavar os cabelos! agora eu sei porque os ingleses não enxaguam a louça, hehe. temos que ser responsáveis e realistas, tomar banho pela metade também não é ecologicamente correto!

a cortina ainda é um protótipo e eu acho que para ser comercializada deveria aumentar o tempo para 10 minutinhos ao menos. BTW, pensei em botar essa cortina quando tiver visitas em casa, hahaha!

o cachorro fantasma

esses dias fiz um daqueles quizes infinitos do Facebook que prometia revelar o meu grau de paranormalidade, hehe. apesar da superficialidade desses testes que servem unicamente para a gente se divertir e depois mostrar o resultado para os amigos, lembrei que tinha uma história interessante para contar.

antes deste apartamente que estamos agora, morávamos no térreo do mesmo prédio e tínhamos um quintal, coisa absolutamente rara em Manhattan. ficamos apenas 1 ano porque a proprietária, produtora independente em Los Angeles, havia tido um ano péssimo por causa da crise e precisava vender o imóvel, por sinal ainda sem comprador...

a mesa onde estava o meu computador ficava de frente para o quintal, que tem uma área comum aos 4 apartamentos do térreo, e algumas vezes eu via um cachorro de pelagem escura, chocolate, passando por lá, parecia um Golden Retriever. quando chegou a primavera, minha vizinha organizou um churrasco para os moradores do andar e eu aproveitei para perguntar sobre o tal cachorro. para minha surpresa ninguém tinha cachorro e eu desconversei a história com cara de tacho, hahaha. além do mais foi um certo quiprocó porque fiquei sabendo que era proibido ter animal solto na área comum e se caso eu o visse de novo deveria avisar ao zelador.

então eu comecei a ver o cachorro também dentro do meu apartamento! era aquela coisa meio de relance, que você acha que viu mas não tem certeza. os gatos ficavam incomodados quando isso acontecia, se eles estavam dormindo acordavam e iam atrás do "invasor". em francês, "folie à deux" é um tipo de loucura que é compartilhada por mais de uma pessoa, pode ser a 3, a 4, quantos loucos tiverem. eu questionava se estaria numa "folie à trois" felina, hehe.

no meio de uma madrugada acordei e vi o cachorro entrando no meu quarto. o Gummi, que dormia no pé da cama, imediatamente acordou, ele era a minha testemunha. o "cãotasma" foi direto para o lado do meu marido e para a minha surpresa Mario comeceu a fazer carinho na cabeça dele. Gummi e eu estávamos incrédulos. perguntei ao Mario o que estava acontecendo, da onde era aquele cachorro, mas foi inútil, ele virou para o lado e dormiu enquanto o cachorro saía do quarto. Gummi e Tesla o seguiram e eu fui atrás, mas não vi mais nada, ele havia desaparecido com as sombras da noite.

as aparições continuaram vez ou outra e eu não me importava mais, deixava o cão ficar a vontade, hehe.

então a dona do apartamento veio nos visitar para avisar sobre a venda. ela contou que no dia anterior a mãe havia perdido o cachorrinho dela no Central Park. ela costumava andar com ele sem coleira e por um azar daqueles ele acabou sendo atropelado. imediatamente lembrei da história do "cãotasma" e tomei coragem para perguntar se havia um cachorro com as características dele quando ela morava no prédio. ela pensou um pouco e disse que sim, mas que fazia muito tempo... eu disse, "eu sei que é estranho, mas as vezes eu o vejo aqui". ela perguntou sobre o pêlo, tamanho e tudo batia. contou que antes era permitido que os cachorros circulassem na área comum e que ele sempre vinha brincar no quintal dela, já que ela sempre gostou de bichos. ele ficou um tempo sem aparecer e um dia ela soube que ele havia morrido.

não foi a primeira história que confirmei e provavelmente não será a última. enquanto o meu universo estiver restrito a animais de estimação fofinhos eu ficarei tranquila, que não me apareça nenhum Cerberus, hahaha!

Monday

Casey Spooner diz que Brasil impressiona



o pré-show "Entertainment", do Fischerspooner, foi demais! The Performing Garage, o local escolhido para as 3 apresentações (23, 24, 25/4) da dupla antes de abrir a turnê oficial, que começa pela Europa, é tipo uma garagem mesmo, inclusive em termos de bagunça, dá pra ver pelas fotos. o lugar é pequeno e colocaram em frente ao palco 60 cadeiras, daquele modelo típico de bar, fiquei até com uma vértebra doendo, mas só de vê-los tão perto foi ótimo. a primeira vez que vimos a dupla foi no Skol Beats de 2004, no meio de uma multidão, agora foi tipo cara a cara. quando estávamos em Paris era impossível comprar ingressos para vê-los, estava sempre sold out.






logo no início do show, entre as placas de espelho que são as coadjuvantes da performance de Casey, ele disse que estavam ensaiando duro porque iriam se apresentar no Brasil em breve. achei estranho porque não tinha visto nada sobre isso... a apresentação foi intensa e durou pouco mais de 1 hora, Casey cantou e dançou todos os sucessos ("Emerge", "Just Let Go", "The Best Revenge", "Never Win", "Sweetness") e algumas músicas do novo álbum (Supply&Demand entre elas). ele agradeceu o público, se desculpou dos erros (eles se atropelaram em algumas coreografias e as dançarinas tiveram dificuldade em vesti-lo com uma capa de ombreiras imensas), então se sentou numa 3 tabelas ao lado das camisetas que iria vender e disse que estava disponível para conversar e responder perguntas. fomos lá, dissemos que já havíamos visto o show deles no Brasil, que eles eram ótimos e arrasavam e aproveitamos para perguntar quando eles estavam indo para lá. ele respondeu: "não vamos, eu simplesmente menti, eu sempre falo que vamos ao Brasil porque isso impressiona as pessoas, hahaha".



Thursday

nails&cocktails

os nova-yorkinos amam fazer as unhas e lugar para isso não falta. mesmo com a crise os salões continuam cheios, principalmente nas sextas e sábados. a rede Spa Belles, por exemplo, a mais barata de NY, tem uma filial a cada esquina e praticamente só tem chineses como funcionários. são dezenas deles fazendo manicure, pedicure, massagem e depilação. como moro num pedaço de Chelsea bastante gay, a unidade que tem perto de casa está sempre lotada de meninos. eles nunca vão sozinhos, adoram ficar fofocando com o amigo ou namorado enquanto afiam as garras ou amaciam os pezinhos, eles são super vaidosos.

um salão desse tipo jamais faria sucesso em Paris, lá ninguém faz a unha do pé na frente de estranhos, só em cabine fechada, à meia-luz e com pedicure cega, hahaha. franceses são muito pudicos com os pés... eu também seria se os meus pés ficassem no estado que eles costumam deixar os deles, um verdadeiro horror! no verão é aquele festival de cascos grossos e amarelados querendo pegar um pouco de luz, M-E-D-O!

um lugar super badalado onde também se pode cuidar das unhas é o Beauty Bar, com filiais em mais 5 cidades dos EUA: Los Angeles, Las Vegas, São Francisco, São Diego e Austin. o horário de atendimento é super, das 18 às 23, justamente para você sair do trabalho e ir fazer as unhas tomando o seu drink preferido, ótimo para relaxar! em Nova York o bar-salão fica no Lower East Side e costuma estar transbordando. depois das 23h00 as manicures vão embora e o povo fica até alta madrugada bebendo e dançando sem parar com as unhas lindas. a decoração é 50's e os produtos vintage de beleza e cabelo guardados nos armários chamam a atenção de todo o mundo. as cadeiras com secador em volta do bar (foto ao lado) são o máximo, eu adoro!

para quem procura novas opções para cobrir as unhas, tem os adesivos da Minx que a Sasha Fierce, aka Beyoncé, é fã. diz que dura 2 semanas, mas eu tenho minhas dúvidas... o transfer pode até resistir, mas em 15 dias as unhas costumam crescer o suficiente para perder a cobertura total do adesivo. a Minx tem uma variedade infinita de desenhos: bichinhos, flores, camuflados, polka-dots, xadrezes, caveiras, pele de bicho, tudo para todos os gostos! no site diz que ainda não chegou ao Brasil, mas eu quase duvido! em Nova York tem um salão no Brooklyn que é credenciado para trabalhar com a Minx, diz que requer treinamento para a função. aliás, o De Lux Gallery é especializado em cabelos afros, eles criam cabeças inacreditáveis! faça as unhas e saia com um cabelão de arrasar.













falando em cabelão, eu tenho me irritado um tanto com essa nova moda de deixar o cabelo crescer para "cima", tá impossível enxergar alguma coisa nos shows, vou ter que adaptar uma perna de pau portátil ou pegar a peruca da Amy para me vingar, hahaha.

Beauty Bar
231 E 14th St

Spa Belles
74 W 7th Av

De Lux Gallery
704 Fulton Street, Brooklyn

Wednesday

o ovo da discórdia

domingo fiz macarrão à carbonara e lembramos de uma história engraçada que aconteceu em Paris. antes, abro um parênteses para dizer que francês ama ovo e não têm problema nenhum em comê-los crus. com o espírito campônes latente, do mesmo jeito que o povo se delicia em tomar o leite de vaca ou cabra tirado na hora, com os ovos não é diferente, hehe. carne moída com ovo (tudo cru, claro!) é um dos pfs mais pedidos nas brasseries. os americanos, que têm paranóia de salmonela, jamais aprovariam isso, mas num país em que os vasos sanitários têm menos salmonela que a maior parte das cozinhas dos restaurantes, eles deveriam é ficar bem quietinhos no cada vez mais pobre cantinho deles.

um dos nossos amigos franceses tem loucura por macarrão à carbonara, é um dos seus pratos preferidos. a primeira vez que ele pediu achamos estranho que o garçon trouxesse a massa e colocasse um ovo ao lado do prato para que o cliente incorporasse ao macarrão. além de estranho achamos nojento e dissemos que aquela não era a receita italiana, cujo ovo é adicionado batido à massa quente para que assim cozinhe em vez de virar uma massaroca gosmenta. o francês riu da nossa cara e disse que sempre comeu daquele jeito e ele estava certo, nas brasseries só se servia o prato desta maneira. uma adaptação local da tradicional receita.

ninguém sabe direito a origem do carbonara, diz que pode ser tanto criação dos carvoeiros dos Montes Apeninos (carbone=carvão), quanto da Carbonária, uma sociedade secreta napolitana do século XIX. a minha especulação preferida é que teria sido mais uma invenção americana (já repararam que eles inventam tudo? de avião à receita de macarrão? é uma gente muito inventiva mesmo!), que durante a libertação de Roma, na 2ª Guerra, algum soldado teve a idéia de variar a ração de ovos e bacon misturando com a pasta e voilà, assim nasceu o macarrão à carbonara!!! eu poderia bem acreditar nesta história estúpida se a minha avó não fosse italiana nascida e criada em Padova de trás dos montes e se a família dela não tivesse um restaurante onde se servia o prato! enfim, os americanos falam o que quer, acredite quem quiser, sempre foi assim.

mas, voltando ao carbonara parisiense, um dia fomos a um restaurante italiano e o nosso amigo pediu o seu prato preferido. servido o macarrão, o francês ficou procurando o ovo na mesa. chamou o garçon e reclamou. italiano que era, o garçon não entendeu a pergunta... o francês disse que queria o ovo para misturar na massa. o garçon gargalhou e disse que o ovo já estava lá, e que se ele quisesse um outro ovo seria cobrado um acréscimo. todos riram, mas o francês só sossegou de esbravejar depois de ter o seu ovinho cru espatifado sobre o spaghetti.

Tuesday

unidos na selva























tenho visto vários editoriais com muita palmeira, árvores altas, pau d'água e costela de adão; se tem mato é fashion! os lugares são exuberantes, as roupas nem sempre, mas a mesmice de ver este tipo de paisagem ficou meio irritante. eu sei que tudo isso é pra fazer referência às influências africanas que marcaram os desfiles de primavera-verão 09, mas cansou, né? não pela vegetação, que eu adoro, mas pela falta de criatividade de se pensar algo diferente, África é só isso? bom, se acham que Brasil é só bunda e bala perdida, então a África saiu ganhando. a gente reclama, diz que o povo não tem imaginação, mas acontece nas melhores castas de fotógrafos europeus.

as fotos acima são dos editoriais da sueca Camilla Akrans para a New York Times Style e do Juergen Teller para a W, num trabalho que preenche lindamente as grandes páginas da revista. a W até que surpreendeu, afinal ela tem sido basicamente uma revista de anúncios. a "folhinha laranja" da foto é a Devon Aoki, mas tem também a Raquel Zimmermann em poses inacreditáveis, a foto dela equilibrando um galo numa das mãos é dolorosa! ela também foi a estrela da campanha do Marc Jacobs, fotografada pelo mesmo alemão, num clima bucólico.

















o ensaio de Jean-Baptiste Mondino para a New York Times Style seguiu a trilha da roça. Milla Jovovitch sobe-desce-agarra-trepa em árvore. nesta foto ele está usando um inacreditável vestido do Roberto Cavalli que deve estar desacordado até agora se recuperando de algum traumatismo craniano. o estilo pueril do vestido não tem nada a ver com o costumeiro exibicionismo do italiano. ah! o jesus crucificado di costas na palmeira não é o da luz e veio da Urban Outfitters. toda a ambientação do catálogo de primavera-verão foi com vegetação tropicaliente.


os holandeses Inez van Lamsweerde e Vinoodh Matadin, deram um ar tropical-poser para a campanha da Gucci, mais poser que tropical é verdade, mas é Gucci. eu penso que deve ser muito chato fotografar para uma marca dessas porque no geral você está numa camisa de força com pouco espaço para criação. vendo os outros trabalhos da dupla dá a impressão que foi isso mesmo que ocorreu.






por fim, mas certamente não o último, a Vanity Fair apresentou o editorial ilustrado African Queens, usando a mesma temática. eles têm o mérito de ser a Ú-N-I-C-A publicação que escalou modelos negras, ainda que em desenho... (o diretor de moda e estilo da Vanity Fair, Michael Roberts, é negro). adoro isso, o povo se inspira na África e só bota caucasiana, tsk, tsk. eu acho que seria mais interessante vestir as modelos com o tecido dos vestidos, mas tudo bem, pelo menos eles tentaram uma outra abordagem.


se eu soubesse que a moda iria cair nisso teria feito umas comprinhas em Barbès, aposto que a Louis Vuitton fez pesquisa pelo bairro parisiense e depois disse que foi um minucioso e extenso trabalho por tribos africanas... sei, sei...

Saturday

meu passado me redime

nesta semana que passou, o U2 esteve todos os dias no programa do David Letterman para divulgar o novo trabalho, No Line on the Horizon. isso tudo me fez lembrar do pesadelo que foi na MTV quando a banda foi para o Brasil pela primeira vez, em 1998. eu era redatora do Promo, o departamento responsável por todas as chamadas, campanhas e vinhetas da emissora e fui a escolhida para fazer toda a campanha do U2, que a MTV estava promovendo. era uma quantidade de trabalho absolutamente insana porque tinham vários programas inteiramente dedicados aos irlandeses e ainda um countdown avisando quanto tempo faltava para os shows, tudo com muito superlativo, eu diria hiperlativos: "a maior banda da face da Terra, do sistema solar, de todo o universo, a preferida de deus..." eu já tinha decorado o dicionário de sinônimos neste quesito e as chamadas não terminavam, o U2 estava me deixando histérica, aliás todo mundo que estava trabalhando com eles só reclamava, era falar U2 que o povo surtava!

por todo o trabalho e intensa dedicação, hehe, ganhei ingressos para ir ao show no Morumbi e ainda um carrinho de supermercado amarelo super fofo, que era o brinde da turnê PopMart. eu devia gostar mesmo do carrinho porque o mantive até mudar para Paris, em 2005. isso porque desde 1998 ainda troquei 5 vezes de endereço. o carrinho era ótimo para guardar os brinquedos da Frida e depois do Gummi. em Paris, quando via os mendigos empurrando seus carrinhos de supermercado pelas ruas com todos os seus pertences, eu lembrava do carrinho amarelo, aquele sim era fashion, uma coisa SDF* de Harajuku.

neste "remember the time", veio a cena da loucura que aprontei no Morumbi, eu realmente não tinha muitos parâmetros de perigo nesta época, eu enfrentava qualquer coisa sem medo. tinha um grandalhão do lado da onde eu estava que se aproveitava do seu corpo de armário atropelando as pessoas. ele andava pra frente e pra trás, imitando o Bono, chacoalhando uma jaqueta que batia em mim toda hora. eu estava ficando muito irritada e toda vez que ele encostava em mim eu o chutava com o coturno, eu sempre ia a shows de coturno justamente para estes inconvenientes. mas meus chutes estavam passando desapercebidos, ele continuava com a sua micagem. então parti para uma tática menos sutil e arranquei a jaqueta dele e joguei o mais longe que pude! ele se preocupou mais em sair correndo para resgatar a jaqueta e nem viu que tinha sido eu. então ele voltou e continuou com a patetada... bufando fui até ele, arranquei a jaqueta e disse que ia jogar pro outro lado se ele não parasse, que aquilo estava me incomodando imensamente e que eu não conseguia ver nada do show, que ele era um egoísta patético e bêbado, descarreguei a TPM inteira. ele ficou olhando pra mim fixamente e quando eu pensei que ele poderia dar um soco bem no meio da minha pêra, ele pediu desculpas e ficou quieto... ai, que gente mais sem interação! HAHAHAHAHAHAHA!

* em francês, SDF é a sigla para "sans domicile fixe".

Monday

guarde bem este nome


tem um bairro no Brooklyn, Bed-Stuy para os locais, que não é muito simpático com brancos. um casal de amigos branco-neve quase foi atingido por uma tijolada arremessada de um dos prédios, outro cor de leite foi pego em cheio por bexigas d'água. um brasileiro desavisado, que só porque veio do ABC acha que é malaco, foi morar lá. ele até que é jambo, mas a namorada é oxigenada e levou uma bexigada d'água no primeiro dia que saiu sozinha. histérica ligou pro namorado que foi perguntar pro povo do trabalho se aquilo era normal. a resposta que ele ouviu depois de informar que morava em Bed Stuyvesant: "mas foi só água? agradeça que não era merda!" HAHAHAHAHAHA! mesmo assim ele decidiu ficar, afinal paga U$1,100 num apartamento de 2 quartos, coisa que num bairro, digamos, mais friendly do Brooklyn, não saíria por menos de U$2,000. mas ele enfrenta outros tipos de problemas, por exemplo: nenhum táxi aceita levá-lo pra lá, a não ser que ele pague o dobro e adiantado... ele também perdeu a namorada, hehe, que preferiu voltar para a traquilidade do ABC.

abro um parênteses pra dizer que eu sou uma das pessoas mais perdidas do mundo, tenho a capacidade de pegar a direção errada sempre! como eu já me acostumei com esta particularidade, não me irrito mais, o problema é quando tenho que levar alguém a um lugar que não conheço bem... eu já aviso antes que vamos nos perder, etc e tal.

uma amiga que morava em Los Angeles veio pra Nova York e queria conhecer Williamsburg, o bairro super-hiper-hype do Brooklyn. tem lojas muito legais e é onde a modernidade passa a noite. como não tem uma estação de metrô que chama Williamsburg (hehe), eu não tinha como fugir ao meu destino. olhei o mapa e achei que Bed-Stuy fosse a estação mais próxima. nesta época eu estava aqui há 7 meses e não sabia das histórias que contei logo acima...

saímos da estação, olhamos para um lado e para outro, nenhum sinal de hypismo. seria mais pra lá? no outro quarteirão? na rua de trás? muitas perguntas e um calor mongoliano naquele dia de junho. um negro, de lenço branco amarrado na cabeça, encostado na saída do metrô, era o único que nos observava. perguntou o que estávamos fazendo ali. as patzas respondem que estão procurando umas lojas... o anjo de ébano dá um sorriso gentil e diz que não vamos achar loja alguma, que ali não é lugar pra gente como a gente (ele não disse "brancas" pra não ser acusado de racista, claro!) que é pra irmos pra Williamsburg, que vamos gostar mais de lá. eu olho de novo de um lado pra outro e ele insiste para irmos embora logo!

descemos para a estação e liguei para um amigo pedindo informações:

amigo - onde vc tá?
eu - Bed alguma coisa, um nome estranho...
amigo - BED STUY? VCS TÃO EM BED STUY? VCS PODEM SAIR DAÍ AGORA MESMO?
eu - nossa, que coincidência, um cara acabou de dizer a mesma coisa pra gente! HAHAHAHAHAHAHAHA!

desliguei e disse para a minha amiga que naquele dia o povo estava muito estressado, talvez fosse o calor... depois soube das histórias que o povo do bairro do Mike Tyson (já sei onde e como ele começou a bater) adora tacar coisas estranhas em branquelos.

o negro, certamente local, foi um amor e super simpático. em nenhum momento eu imaginei que estivesse num lugar de risco. se tacassem bexigas d'água na gente eu iria achar que era para comemorar o calor, HAHAHAHAHAHA! é o que eu sempre digo: a ignorância pode ser uma bênção!

p.s.: no ótimo policial "French Connection" (passou na TV ontem o 1 e o 2 em seguida), Gene Hackman interpreta o explosivo detetive de narcóticos, Jimmy "Popeye" Doyle, que trabalha justamente na NYPD de Bed-Stuy. esse foi criado no bairro!

o filme é de 1971 e em 1972 surgiu em Londres a primeira loja de roupas da French Connection, que atualmente tem filiais em vários estados americanos, além da Europa, Japão e Austrália. a cara da marca tende a ser mais moderna do que se encontra na loja, mas costuma ter peças interessantes. os preços são equivalentes aos da Banana Republic, um pouco mais caro que a Gap. a filial mais charmosa de Nova York, são 3 no total, é a do Soho.

French Connection
435 West Broadway

Thursday

curaçauuuummmmmmmm!!!

falar do Jarek me fez lembrar dos zeladores que tivemos em Paris. no último lugar onde moramos, em Porte d'Orleans, era um casal de espanhóis, contrariando a regra de 99% dos prédios da cidade. em Paris, zelador é sinônimo de português... este casal era simpaticíssimo e super solícito, então não tem graça falar deles porque só vou poder elogiar, hehe. já a zeladora que tivemos em Montparnasse...

infelizmente não lembro o nome da portuguesa, mas a bigoduda tinha desafetos espalhados por todo o prédio, franceses são muito sensíveis à cheiro... de comida, of course! e todo santo domingo a tuga empesteava o céu e o inferno com a sua tradicional caldeirada de sardinha, era vomitivo! nos disseram que antes era muito pior: a tuga reunia o povo de trás dos montes e fazia sardinhada no pátio interno do prédio, os apartamentos ficavam defumados de peixe. começou a ter briga e a francesada ameaçava cuspir pela janela para apagar a brasa, então ela desistiu e trocou o churrasco pelo ensopado dominical. o povo acalmou porque afetava apenas os apartamentos mais próximos do térreo. nós morávamos no 2º andar...

um dia tivemos que buscar um pacote que o carteiro havia deixado com ela. a gente teve que se controlar pra não fugir porque quem abriu a porta era uma versão do tio Chico da família Adams! a tuga apareceu careca (portanto ela usava peruca) e meio que tapava as vergonhas apenas com uma toalha úmida, mal colada ao corpo. metade dos peitos estava pra fora e do avesso, uma profusão de pêlos não deixava eu distinguir onde começavam as franjas da toalha, se é que aquelas franjas eram mesmo da toalha... se as irlandesas são piores (ou melhores, vai de gosto) só desmatando com uma foice bem afiada! bom, pegamos o pacote e saímos correndo, depois disso avisamos ao carteiro para nunca mais deixar nada com ela, a gente preferia retirar no correio mesmo, hehe.

detalhe: ela "tomava banho" na pia da cozinha! a porta de vidro vestia apenas uma cortina transparente e a pia ficava bem ali, exibindo-se pra quem não abaixasse a cabeça por distração quando passasse em frente do apartamento. a luvinha do banho ficava pendurada na fechadura da porta pra quem quisesse ver. ela realmente apreciava dividir sua intimidade.

durante a semana, perto do meio-dia, éramos chicoteados com o mesmo grito agudo:

- Curaçãuuuuuuuuuuuummmmmmm!!!

era ela chamando a neta, que morava num dos apartamentos acima do nosso, pra ir pra escola. como alguém bota o nome de "Coração" numa criatura? só os tugas! fora que eu demorei muito pra entender que era isso mesmo, até que encontrei com a filha dela, que também trabalhava no prédio, e perguntei o nome da tuguinha.

e quando a tuga ia recolher as lixeiras da rua? se o tempo estava bom, ela ficava abraçada com a lixeira enquanto conversava com as outras concierges vizinhas... eu vou morrer sem nunca entender isto. como alguém passa horas conversando abraçado com uma lixeira? a vida realmente nos prega peças...

mudamos de lá num sábado de maio e no mês seguinte fomos buscar a correspondência. a tuga não abraçava mais lixeiras e nem abria a porta de toalha: para nossa surpresa estava morta e enterrada! a causa da morte? curaçãuuuuuuuuuuuummmm! isso, ela tinha morrido de ataque cardíaco. que deus a tenha sardinhando pela eternidade, hehe. espero que a tenham enterrado com a peruca chocolate, era a que lhe caía melhor.

p.s.: eu não gosto de sardinhas, mas no Bar Breton, um restaurante francês especializado nas tradicionais crepes de trigo sarraceno, tem uma entrada deliciosa, nem parece sardinha de tão suave que é o sabor. no dia que jantamos lá teve um surto coletivo: num dado momento absolutamente TODO MUNDO começou a tossir e a lacrimejar sem parar, achamos que era um ataque de anthrax ou algo do gênero, mas os garçons foram acalmar os clientes avisando que a coifa estava com problema e a gente estava respirando o poivre que o chef estava usando ... foi uma loucura, mas todos sobreviveram. quer dizer, eu acho, né?

Bar Breton
254 Fifth Av
barbreton.com

Tuesday

big brother Jarek

Jarek, o zelador do nosso prédio, é um polônes de quase 2 metros de altura que carrega sozinho uma geladeira sem perder o fôlego. apesar do sotaque, ele fala inglês perfeitamente, ao contrário dos seus amigos de colônia que eu já tive a oportunidade de conhecer. ele tem bastante trabalho, afinal cuida sozinho do edifício que tem 60 apartamentos. quando eu digo sozinho é porque ele faz absolutamente tudo: trocar lâmpada, botar o lixo pra fora, receber as encomendas dos moradores e entregar pessoalmente a noite, chamar encanador, fazer reparos elétricos, etc. a gente, por si, não pode fazer nada, tudo precisa passar por ele. Jarek é do tipo que antes de você conseguir terminar de dizer "thank you" ele já desapareceu da sua frente há muito tempo; por mais que eu aprimore a técnica de agradecê-lo em milésimos de segundos, eu nunca consigo vencê-lo, hehe.

logo que mudamos pra cá, eu reciclava as coisas do mesmo jeito que em Paris. um dia ele me disse: "você recicla demais, tal e tal coisa não se recicla". eu contei pro Mario e a gente ficou imaginando como ele saberia se nunca estava presente quando eu levava o lixo... uma vez deixei o Gummi passeando no quintal, mas ele resolveu escalar a árvore do vizinho do outro prédio, o que me deixou muito preocupada. Jarek apareceu do nada e perguntou se eu precisava de ajuda com o gato... outro dia ele disse que não era para eu apagar a luz da lavandeira quando saísse, que as luzes precisam ficar acesas 24 horas por dia... mais uma vez mistério! daí eu vi que ao lado do elevador, no sub-solo, onde ficam a lavanderia e a lixeira do prédio, tem uma câmera disfarçada e acenei pra ela. no dia seguinte, enquanto pegava a correspondência, Jarek apareceu e disse: quando vc estiver na frente da câmera não é para ficar brincando de fazer tchauzinho, HAHAHAHAHAHAHAHA!

Wednesday

sos USA

enquanto que no Brasil a primeira tarefa do ano é decidir onde se passar o Carnaval, em países empobrecidos como os Estados Unidos, a preocupação é com a declaração do imposto de renda. além dos 30% que são descontados na fonte, descobrimos que vamos ter que pagar o equivalente a mais 4% da renda anual, isso porque contratamos um contador. fazendo a declaração sozinhos teríamos que pagar mais 6%, então o contador acabou saindo barato porque conhece as "manhas" dos descontos, hehe. na França e no Brasil, a média que se paga é 25% e mesmo que o Brasil não seja a mãe que a França é, não dá para comparar com o retorno que se tem deste dinheiro por aqui, ou seja: N-A-D-A! só pra falar da saúde, se eu precisar de médico no Brasil eu posso contar com algum SUS, aqui se eu não tiver um plano de saúde, a saída é qualquer outra...

antes de mudarmos pra cá estava passando "Sicko", do Michael Moore, e eu me recusei a assistir achando que poderia ter sensacionalismo demais e isso me influenciaria negativamente, mas hoje sei que o incendiário diretor mostrava a verdade. quem reclama da saúde no Brasil não faz idéia de como pode ser aqui, um tal país do 1º Mundo.

um amigo espanhol, que conheci em Paris, é asmático e teve uma crise quando morava em Nova York, mas não tinha plano de saúde. ele teve que "fugir" para a Califórnia porque não podia pagar a conta, não existe uma opção para quem não pode pagar um plano. uma amiga americana perdeu o emprego e ficou 3 meses sem seguro-saúde, ela diz que quase pirou porque tomava o maior cuidado para fazer qualquer coisa, ela morria de medo de ser atropelada, hehe. um "deslize" desses realmente pode custar a sua vida bancária para sempre, os tratamentos são obscenos de caros. quando eu contei que o meu irmão havia sofrido traumatismo craniano, em São Paulo, e tudo o que tivemos que pagar foi o poste que o carro destruiu, ela não acreditou! simplesmente não existe a opção "não pagar" tratamento hospitalar nos EUA! outra amiga foi fazer um exame e meses depois precisava fazer novamente porque continuava com o mesmo problema. antes de marcar a consulta já foi avisada pela secretária que não poderia fazê-lo novamente porque o plano não cobria, que era para ela marcar dali a 4 meses... também não existe a opção pagar por algo extra, ou o seu plano cobre ou não, ponto final. não vou falar da situação odontológica porque é ainda pior, tem gente que nunca viu um dentista na vida (eu sei que no Brasil é igual, mas existe uma opção do Estado) e que depende de mutirões de profissionais que vêm do exterior para atender filas intermináveis de pacientes em ginásios de esportes transformados em consultório coletivo. os felizardos são escolhidos por sorteio, porque nunca há dentistas suficientes para todos que procuram.

bom, vou lá pagar o imposto e contribuir contra a minha vontade para o que os EUA julgam ser o melhor: gastar com guerras pelo mundo. conseguirá Super-Obama deter o escudo destruidor do Capitão América?