Wednesday

quando a vida parece uma sitcom - 1

morar em Nova York te dá a sensação que sempre tem uma câmera por perto pronta pra flagrar algum deslize seu e se isso não acontece é só uma mera coincidência ou sorte mesmo, hehe.

dia desses, calor infernal, a chavinha virou de 20 pra 37 graus de um dia pro outro sem dó, o povo conversava na cozinha do estúdio, aquele momento The Office. a Olivia, que de palito não tem nada, é uma fofa vegan com quase 100 kg; o Jack é o bonito que vai sempre com uma camiseta diferente, parece que além de designer ele é maníaco e por enquanto é tudo o que sabemos dele e o Andy, uma bicha afetadíssima que faz bolos temáticos como hobbie e que está na fila pra adotar uma criança, qualquer dia eu conto a história dela que é super engraçada.

eles comentavam o que tinham feito com a chegada do calor senegalense: Olivia frisou o cabelo e ficou a cara da gorda do The Mamas & The Papas; Jack, claaaaaaaro, comprou mais camisetas e o Andy passou a faca na barba e deixou de lado o ultrapassado look "vinde a mim as criancinhas".

o Jack, sempre meio pérfido em seus comentários, disse que só faltava a Lisa, que é a mais i-wanna-be-fashion do povo, aparecer com a cabeça raspada, mas que ele sinceramente esperava que ela não fizesse essa besteira porque ela não tinha design pra isso... então a Olivia e o Andy disseram que eles achavam que a Lisa ficaria super bem de cabeça raspada, que ela tinha estilo e atitude e tal, mas o Jack só ria, discordava e fazia pouco quando a LISA ENTRA NA COZINHA DE CABEÇA RASPADA!!! Jack engasgou imediatamente com o suco de cranberries e todos voltaram correndo pras suas salas e não tocaram mais no assunto. ah tá, e eu acredito que a Olivia, que vem a ser a melhor amiga da Lisa, não sabia que ela tinha se raspado... pois o Jack deveria ter tido presença de espírito e perguntado se ela aproveitou e também fez uma full brazilian wax, HAHAHAHAHAHAHAHA!

o Gallo dos ovos de ouro?

botei a foto da Chloë Sevigny no post abaixo e claro que lembrei de "Brown Bunny", que ela e Vincent Gallo fizeram juntos. diz que Chloë se arrepende até hoje de ter participado do filme, mas nunca comentou se gostou ou não de ter engolido o Gallo. eu tenho comigo que não, do contrário pra quê tanto arrependimento? mas se você está com dinheiro sobrando e tem esta curiosidade, Vincent Gallo está disponível para satisfazer o seu desejo: $50,000 (despesas não incluídas) é o preço da diária, $100,000 pelo fim de semana. ele atende casais de lésbicas, mas gays nem fodendo. e tem que ser mulher nascida e criada, ele não aceita operadas. se a sua fantasia for mais longe e você quiser um filho do Gallo, ele também vende o esperma por $1,000,000.00 (todas as despesas de uma fertilização in vitro inclusas). pra quem preferir o método natural o custo aumenta em $500,000. ah, tem coisas que o Gallo não faz por você: "no credit card payments accepted". vai lá e depois me conta!

Tuesday

Astro-Boy tem o poder!
















Astro-Boy sempre foi um dos meus heróis preferidos, eu achava o máximo ele traduzir dezenas de idiomas ao mesmo tempo e poder entender o coração das pessoas, hehe. agora ele é uma das estrelas da coleção de verão da Uniqlo, marca japonesa que tem loja no Soho (ótimo lugar pra ver lojinhas) e que também vende por e-mail. tem outras estampas de mangás, frases divertidas ("leave me alone", "it's not you, it's me"), mais ilustrações de Keith Haring e Basquiat, é só olhar no site. todas as camisetas vêm dentro de uma embalagem transparente que lembra as de bolas de tênis e o preço é super ok, ou já se compra uma camiseta legal no Brasil pelo equivalente a U$15.50?

Uniqlo
546 Broadway, Manhattan
uniqlo.com

Friday

Tea Lounge























então é isso, já passamos da metade de maio, primavera corrente e a temperatura estacionada nos 13 graus!!! tá frio no Brasil, né? aqui tá faz tempo, HAHAHAHAHA! melhorou um dia ou outro, mas a realidade está longe de ser quente! isso é bem feito pra mim que reclamava que Paris era fria e tal, só que em maio já tinha esquentado faz tempo e o Jardin du Luxembourg estava cheio de gente tomando sol. enfim, c'est la vie à Manhattan!


em dias assim, o bom é ir ao Tea Lounge, no Brooklyn. você pode passar o dia trabalhando em seu computador, lendo um livro, fazer reuniões ou mesmo só ficar conferindo o movimento do bairro, é um lugar super democrático. como o próprio nome indica, a especialidade da casa é o chá, eles têm um menu imenso de aromas, mas o café e o chocolate quente também são deliciosos. quando morávamos no Brooklyn e não tínhamos internet, o Tea Lounge era o nosso escritório, ficávamos a tarde toda, um monte de gente faz o mesmo. os sofás são super confortáveis e grandes, a atmosfera é amigável e você se sente super à vontade. tem noites especiais com projeção de filmes cult ou música ao vivo, mas pra mim o melhor são as tardes tranquilas com muito rock dos anos 70 e 80 tocando baixinho, mas não muito, hehe.

Tea Lounge
350 7th Avenue, Brooklyn
tealoungeny.com

Wednesday

modos, por favor!



























os pombos são complicados. aparentemente não eram difíceis de se conviver, mas eu estava enganada! é a primeira vez que eu tenho uma convivência tão próxima com eles e confesso que tenho me exasperado. os bichinhos têm problema de intestino irritado, o fast-food deve contribuir pra isso porque nunca vi darem milho pra eles não, os pombos devem entupir o bico de hamburgers e salgadinhos como todo nativo e eu fico com a rebordosa. o fato é que o meu backyard é o restroom preferido destas aves obesas e eu não sei mais o que fazer pra conter a lama negra que pontua a janela. os penosos têm a opção de 4 jardins, mas eles só querem o meu!!! no final vou eu servir uma dieta balanceada de fibras e esperar que eles usem menos o meu "banheiro".

Tuesday

beijo-não-me-liga!





















saudades de Paris onde eu podia passar o tempo no metrô fofocando no celular. em Nova York não é assim... o aparelho pára de funcionar no primeiro degrau da entrada da estação, uma chatice. e o pior é que o metrô daqui demora horas pra passar (piora nos finais de semana e após às 8 da noite), tem que ter uma paciência de Jó. o único passatempo é ficar procurando as ratazanas escuras que se escondem entre os trilhos. em Paris, o máximo que se vê são uns camundongos clarinhos, hehe. e depois o povo ainda tem a cara de pau de dizer que o metrô parisiense é sujo, oh my god!!! tá-tá, uma coisa é verdade, pelo menos em Manhattan a chance de se encontrar com fedidos é baixa, merci mon dieu!

Monday

leave me alone, it's Monday!




















mau humor se combate com mau humor: "House", da Fox, com o impagável Hugh Laurie (inglês, claro!) é o melhor pra arejar deste insuportável mundinho politicamente correto. porque ninguém consegue fingir ser bonzinho 24 horas por dia, só os norte-americanos... depois eles morrem de câncer, mas isso é problema deles.

The Dakota


Manhattan tem prédios lindos espalhados pela ilha. aqui mesmo em Chelsea eu não canso de admirá-los, tanto os residenciais quanto os comerciais que ora me remetem à Londres, ora à Paris, Berlim e mesmo São Paulo. e o Dakota (1 W 72nd Street), por todo o seu histórico, é um dos mais emblemáticos do mundo: Roman Polanski o tornou célebre em "O Bebê de Rosemary", mas John Lennon o eternizou quando tombou em sua entrada, em 1980. o Strawberry Fields, memorial dedicado à estrela dos Beatles, fica exatamente em frente ao Dakota, é só atravessar a Central Park West. geralmente fica um povo meio deprê por ali, eu não vejo muita graça. mais animado é o povo que visita o túmulo do Jim Morrison, no Père Lachaise, que tira foto abraçado na lápide ou com cerveja na mão, HAHAHAHAHA! John Lennon deve achar um saco esse povo todo choramingando e com o nariz escorrendo, eu acho.

conta a lenda que quando o edifício foi construído (1880-84) o Upper West Side era um nada e os nova-iorquinos o consideravam uma área tão remota quanto o território de Dakota, que na época nem era estado, nem havia sido dividido em Dakota do Sul e do Norte e nem tinha a sua grande atração, o Monte Rushmore. tinha um louco ou outro que se aventurava ir pra Dakota e diz que os nova-iorquinos faziam piada com isso e o nome que quer dizer "amigo" na língua dos índios Sioux, acabou pegando.

pra morar lá o seu nome precisa ser aprovado pelos moradores que não quiseram, por exemplo, Gene Simmons, também conhecido como Chaim Witz na comunidade judaica. no lugar dele eu os processaria por discriminação, acho que seria o mínimo! se bem que na época em que ele foi recusado, final dos anos 70, a moda do politicamente correto não era hype ainda, então vai saber se não seria dinheiro gasto à toa, mesmo porque o baixista do Kiss gostava de cuspir sangue na platéia... Lauren Bacall, Judy Garland, Judy Holliday, Boris Karloff, Rudolf Nureyev, Gilda Radner, Leonard Bernstein e Steve Guttenberg estão entre os famosos que já tiveram um apartamento no Dakota. Yoko Ono todo mundo está bocejando de saber que tem apartamento lá, então não precisa falar, hehe.

Thursday

compra moça, é pra ajudar!

este mês a Gucci abriu uma super loja na 725 Fifth Avenue e pra comemorar criou uma bolsa exclusiva que declara o seu amor por Nova York, a primeira cidade onde Guccio Gucci (adoro a imaginação dos italianos pra escolher nome!) abriu loja, em 1953. quem desembolsar entre 320 e 770 doláres pelo mimo, que vai depender do tamanho da bolsa, estará contribuindo para a associação que mantém os playgrounds do Central Park. a Gucci vai doar integralmente a renda das bolsas que vêm assinadas com o logo vintage da marca.

uma das coisas que me chamou a atenção nesta mudança Paris-NY foi a frequência das lojas de luxo. a Gucci, por exemplo, está sempre cheia, coisa que eu nunca vi em Paris... e com todas as outras marcas é assim. no final do ano então, estas lojas estavam intransitáveis em Nova York, mas na Avenue Montaigne ou na Fbg St Honoré, onde se concentram as lojas mais caras do planeta, está tudo sempre vazio: um cliente ou outro bisbilhotando, alguém em frente da vitrine, vendedores se ocupando do nada... só a Louis Vuitton, na Champs Elysées, está sempre com gente transbordando. talvez o luxo ostensivo destas lojas combinado à empáfia parisiense intimide os turistas, coisa que não acontece na Fifth Avenue. sorte dos americanos que assim vendem e lucram mais!

Tuesday

acredite se quiser

é o que eu não canso de repetir: tem coisas que só a América pode proporcionar pra você!

não pense em góticos nem na Família Adams, o restaurante Suicide Bridge, no coração de Maryland, é totalmente familiar! claaaaaaro que uma Mortícia ou outra vai estar numa das mesas degustando algum prato de frutos do mar, a especialidade da casa, mas não é o grosso da frequência. aos domingos, Suicide Bridge serve o seu tradicional brunch até às 14h30 com omeletes, waffles, peixe defumado e bagles. e bacon, muiiiiiiiiiito bacon porque americano funciona à base de gordura!

se você estiver programando um passeio pelo Choptank River não deixe de passar por lá pra me contar se a lenda de que a ponte "chama" suicidas confere. em caso afirmativo eu dispenso o souvenir.

Monday

Oscar pra europeu levar pra casa

assistir ao Oscar nos States é bem diferente, pra começo não dá sono, HAHAHAHAHA! quer dizer, não dá aquele sooooooooooono como dá no Brasil porque começa às 8 da noite, mas sono sempre dá, né? qualquer premiação é chata, não tem jeito, com musical então é linha direta com Morfeu!

durante a semana o noticiário só falou do Oscar e o povo estava enlouquecido fazendo mil apostas, teve até bolão, of course, onde o Mario trabalha. eles levam a premiação super a sério, vai fazer piada com isso que eles já fecham a cara, ô gente sem humor! e eu adoro as perguntas do red carpet, que aliás é o sonho de consumo de qualquer americano, eles venderiam a alma pra estar ali cegando com mil flashes e respondendo as mesmas perguntas idiotas de sempre. mas não é o que todo mundo fez pra estar ali, vender a alma? Hollywood é a filial glamour from Hell. viram que até a Diablo-ex-stripper-Cody ganhou, né? mas eu adorei o roteiro dela, "Juno", com soluções bem anti-sistema que é do que o nosso mundinho hipócrita precisa. e falaram mal do vestido de onça da Diablo, eu não concordo, alguém era páreo pra mulher do Daniel Day-Lewis? D-U-V-I-D-O!!!

mas as perguntas... "de quem é o seu vestido?" "como vai o casamento com o seu ÚLTIMO marido?" (tem que avisar que é o último pra não dar problema) "e a sua A-T-U-A-L namorada, como vai?" (sempre rola uma confusão de nomes, é hilário!). daí que o Casey Affleck gritou o nome da mulher e a puxou pelo braço e falou pra jornalista: "esta é a Summer", mas a Summer nem olhou pra câmera e virou a cara, meio que fechou o tempo, HAHAHAHAHAHA! e o Casey ficou lá, com a mesma cara de bobo do personagem dele em "Jesse James". aliás, Summer Phoenix é irmã de Joaquin e do falecido e ótimo River. falando nisso, achei correto o pot-pourri dos falecidos do último ano, nenhuma comiseração, só a vinheta-homenagem que finalizou com Heath Ledger. o que não foi correto foi aquele momento Bagdá com os soldados americanos apresentando, JUSTAMENTE, o prêmio de melhor documentário!

também adorei que só europeus levaram os prêmios de interpretação (Daniel Day-Lewis, Javier Barden, Tilda Swinton e Marion Cotillard, irreconhecível no papel de Edith Piaf), e que Nando Reis e Visconde de Sabugosa (a.k.a. Ethan e Joel Coen) subiram várias vezes ao palco e ainda levaram melhor filme. quando não tinha mais quem agradecer e Joel contou que ele e o irmão começaram a fazer filmes com 11 anos foi sublime, da série "acreditar nos seus sonhos vale a pena!". aliás, frase bastante repetida nesta 80ª edição. no fim a gente vive torcendo o nariz pro Oscar, mas quem ganha enlouquece, então deve ser muito bom vender a alma!

Thursday

why Bert? why?



















foi falta de imaginação ou, como dizem sarcasticamente os franceses, Bert Stern entrou na fase de "açucarar os morangos" ("sucrer les fraises")? definitivamente não entendi o motivo de refazer a celebrada sessão de fotos de Marilyn Monroe com Lindsay Lohan. apesar de bonitinha e peituda, Lilo não tem o mesmo glamour, brilho e sensualidade de Marilyn que arrasou neste ensaio em que deixou fotografar até a sua cicatriz, coisa proibida pelo estúdio. enfim, conhecem aquele ditado: "pra quem gosta, bacalhau basta" ? eu acho isso.

happy Valentine's Day!

tá uma histeria coletiva nos States, é Valentine's Day! tudo segue sem novidades: enquanto Snoopy tem a sua caixinha de correio atolada de cartinhas apaixonadas, Charlie Brown mais uma vez foi esquecido pela garotinha ruiva, c'est la vie!

comecemos pelo início de tudo: na Roma antiga, em todo dia 15 de fevereiro, era celebrado o Faunus Lupercus, dia da fecundidade, dos pastores e dos rebanhos. este ritual de purificação, organizado no final do calendário romano (pra eles o ano começava em 1º de março), tinha 3 etapas: primeiro os sacerdotes sacrificavam um bode dentro da gruta de Lupercal, aos pés do Monte Palatino, onde a loba teria amamentado Rômulo e Remo. então eles cobriam com o sangue deste sacrifício o corpo dos jovens de famílias nobres num cerimonial que simbolizava a purificação dos pastores. depois era dada a largada para a corrida dos "luperques", em que os sacerdotes e os jovens cobertos com a pele de bichos corriam pelas ruas da cidade encostando os pedaços da carne dos animais sacrificados nos passantes. as mulheres, em particular, se matavam para conseguir um lugar no meio do trajeto e serem tocadas pela carne, na esperança de ter uma gravidez tranquila e um parto sem dor (ah tá!). a parte picante vinha depois disso: as celebrações terminavam com um grande banquete, em que os homens tiravam a sorte para saber com quem eles passariam a noite transando até não aguentar mais. o que começava como "putaria" geralmente pulava pra namoro e até terminava em casamento. os romanos pagãos não eram nem um pouco obrigados!

no entanto, claaaaaaaro, a Igreja não achava isso bom, libertinagem só podia na sacristia e desde que ninguém ficasse sabendo, hehe. então, no fim do século V, o papa Gelasio enviou a "carta contra os Lupercales" ao senador Andrômaco, que sempre que a agenda permitia dava um pulinho na já tradicional festança. na carta, o papa criticava o comportamento imoral das pessoas que participavam da festa, ridicularizava as superstições dos pagãos que honravam os demônios para afastar a má sorte e enfatizava que a festa não tinha impedido as epidemias de 20 anos antes. papo vai, papo vem, no final não rolou proibição nenhuma, mas o macaco velho Gelasio e seus assessores simplesmente inventaram uma festa de arromba para o dia de São Valentim, em 14 de fevereiro, com celebrities e shows internacionais para diminuir o brilho da Faunus Lupercus, que sem paparazzis e cobertura da imprensa foi perdendo força.

o primeiro São Valentim citado na lista dos santos mártires com a data de 14 de fevereiro era um padre romano do século III. viveu sob o reinado de Claudio II, o Gótico, imperador pagão que durante o seu curto reinado (268-270) promoveu sangrentas campanhas militares. para conseguir muitos e muitos homens para o seu exército ele teve uma idéia incrível: proibiu o casamento! a lei não caiu no gosto popular e os jovens continuavam casando, escondidos porque era ainda mais gostoso. e quem dava a bênção a estes foras-da-lei? um fiel escudeiro católico: padre Valentim!

rapidamente desmascarado e colocado atrás das grades pela guarda do implacável Gótico, Valentim conheceu na prisão de Morcegóvia a dark e cega Augustina, a.k.a. filha do carcereiro. diz a lenda que Valentim conseguiu devolver a visão à Augustina que a partir deste milagre abandonou as roupas pretas e começou a se dedicar ao padre. então levava comidinhas, lavava a batina, pedia pra exorcizar demônios e coisinhas do gênero, só pra Valentim mostrar mais luz... agradecido pelo carinho de Augustina, que tornara os seus últimos dias mais doces, Valentim lhe envia uma afetuosa mensagem antes de ser goticamente torturado e executado. finaliza a carta assinando com sangue "Teu Valentim".

Tuesday

voilà la crepe made in USA

hoje nevou o dia inteiro, parecia chuva de isopor de tão mirradinhos os flocos, mas no final do dia o tapete de neve era fofo, o pé afundava nas calçadas e a gente sentia o gelo fino no rosto. antes disso só tinha nevado no final de dezembro, é o inverno mais estranho das últimas décadas, nunca nevou tão pouco em Nova York. mas daí que eu resolvi que queria comer crepe e fomos comprar o Crêpe Mix da Willians-Sonoma que é do lado de casa. eu ainda não confio muito na qualidade dos produtos alimentícios americanos, afinal na França se come muitíssimo bem, a qualidade é impecável e aqui não é lá essas coisas, se paga caro por um produto médio, mesmo porque o povo daqui não é interessado, um pacote de cheetos basta! então torci ainda mais o nariz quando li na embalagem que a crepe faria você se sentir em Paris.... a moça da loja também garantiu que o preparado era simplesmente fantástico, mas ela é paga pra isso, né? depois de fazer algumas esculturas de gelo com o pé, voltamos pra casa e eu fui correndo preparar as crepes. e não é que contrariando toda a minha petulância era tudo verdade? pra ser sincera Crêpe Mix é ainda melhor que as crepes de rua parisienses, juro! então a gente botou na TV5 pra fazer de conta que estava em Paris, mas tivemos que nos contentar com um programa do Québec e ficamos sem entender rien daquele francês esdrúxulo, hehe. aliás, quem fala québécois? a Celine Dion e olha lá como ela canta! HAHAHAHAHAHA!

Saturday

ardência no regaço

tem certas coisas que você só repara quando está longe da sua língua-mãe. você começa a achar várias palavras e expressões engraçadas ou estranhas, coisa que você dificilmente faria se não saísse do Brasil. o foco de atenção muda completamente. eu, por exemplo, já tive acesso de risos com a palavra "fogão". pra mim não faz sentido "fogo" no aumentativo ser o lugar em que cozinhamos. um amigo de Londres caiu na gargalhada quando percebeu que coquetel ou "cocktail", nada mais era que o velho e conhecido rabo de galo. aliás, o cocktail em si é filho da Lei Seca americana (1920-33), quando os bares tinham que quebrar a cabeça pra driblar Eliot Ness e outros agentes federais, então misturavam vários tipos de bebidas alcóolicas com suco, leite, mel, etc. pergunta: Al Capone e a máfia italiana teriam sido os verdadeiros criadores do cocktail? mystèèèèèèère!

daí que dia desses eu chorei de rir, me contorci e até perdi o ar. estava vendo um site sobre produtos brasileiros vendidos nos States quando dei de cara com o molho de pimenta "Ardência no Regaço". o molho parece ser famoso e super recomendado, dizem que é uma loucura pra quem gosta de sabor picante máximo. eu não conhecia e fiquei imaginando mil possibilidades pra chegarem num nome tão explícito, que já foi de folhetim e filme pornô gay. e que nenhum gringo venha me pedir pra explicar o significado de "ardência no regaço", PELAMORDEDEUS, HAHAHAHAHA!

Tuesday

cheque personalizado é isso!


sim é a mais pura e cintilante verdade: todo o mundo precisa de um talão de cheques, não dá pra pagar tudo com cartão ou dinheiro. tanto na França quanto nos States há regras estritas pra isso. tem coisa que só P-O-D-E pagar com cheque e ponto final!

massssssss, já que você é obrigado a ter cheques, por qual razão você teria um talão do seu banco, terrivelmente comum, como todo reles e rasteiro ser humano? porque, claro, você é uma pessoa exclusiva, especial, com estilo único e que pode ter o talão que bem entender, com os motivos que bem quiser, sabia? é exatamente isto que eu estou te dizendo: você quer a Cinderela? O Poderoso Thor? a Pomba-Gira? a pancinha sexy do seu namorado ou mesmo o seu cachorro roubando linguiça no churrasco da família? é isto que a América tem pra te oferecer! e não pára por aí não, tem o porta-cheques combinandinho também. você quer, você tem, isto sim é que é poder!

Friday

pra francês ver e passar mal

um dos bancos norte-americanos mais populares tem um comercial interessante que mostra bem o estilo de vida (podre) do americano médio: tudo começa com um casal entrando num restaurante francês chique, quer dizer, o que seria um restaurante francês chique na imaginação deles, bien sûr! a locução diz que a decoração do lugar é linda, o atendimento é fantástico, o vinho é magnífico, a apresentação dos pratos é um primor, mas a comida é pouca... o casal olha decepcionadíssimo para os pratos e, sem tocá-los, sai correndo do restaurante, entra numa grocery e compra trocentos salgadinhos e refrigerantes exclamando com sorriso nos lábios de orelha a orelha: ISSO SIM QUE É COMIDA E FARTURA!!! e com esta frase apocalíptica o comercial termina com o nosso casal feliz, em frente da tevê, se entupindo de cheetos ou algo do gênero. JE PRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIE!!!

daí que fizeram uma pesquisa com a seguinte pergunta: "você prefere ser americano e pobre ou francês e rico?" o resultado super me surpreendeu: MAIS DE 60% preferiria ser pobre e americano!!! gente, como assim? pleaaaaseeeee!!! bem disse a Maria Bercovitch, isso é porque eles não viram a cor do dinheiro, HAHAHAHAHA!

coincidências não existem

ter vivido quase 3 anos na França produziu algumas mudanças em mim quanto ao consumo e agora estar na boca do lobo tem sido um choque! comprar é bom, mas cansa, ainda mais com tanto apelo, HELLLLLLP!!!

eu penso que só se começa a ser livre quando o desprendimento é pleno, quando se desfazer de coisas é um ato simples e corriqueiro como escovar os dentes. pra mim tem sido um treino, cada mudança fica mais fácil, mas acho que preciso ainda de umas 10 pra largar tudo sem pestanejar e ir embora. temos 40 caixas guardadas no Brasil e não paramos de juntar coisas, todo tipo de coisas... parece que o jogo é estar sempre juntando peças que, supostamente, nos darão segurança e um sentido para a vida. o tal "eu tenho, logo existo!".

em 2005, 40 dias antes de embarcarmos para a França, entraram em nosso apartamento e levaram tudo que conseguiram, inclusive o computador. este incidente foi um verdadeiro baque porque perdemos quase tudo da nossa vida profissional e particular também, muiiiiiiiiito triste. na época foi uma tragédia grega, porque o valor sentimental era maior que tudo!

em dezembro, 2 dias antes de embarcarmos pra NY, aconteceu quase a mesma coisa... o computador, novinho de meses, simplesmente parou de funcionar. num minuto estava tudo perfeito e no outro a tela apagou pra nunca mais voltar! a Apple tentou salvar o que pôde, em outras palavras, só as inutilidades, e perdemos quase tudo novamente, mas dessa vez a máquina ainda estava na garantia e o backup mais adiantado, hehe. mas um backup também pode desaparecer ou simplesmente dar pau, nada é certo. a vida está sempre nos surpreendendo e pregando peças... o que realmente é importante deve estar guardado dentro da gente.

Tuesday

little Warsaw in my house

desde terça passada estou fazendo um curso intensivo de polonês. explico: como em Paris, grande parte dos pintores de NY são poloneses e os que estão no nosso apartamento mal falam inglês. o mais velho, uns 50 anos, está aqui há 15 anos, mas me disse que sempre viveu na colônia, que não foi pra escola, então que não dava pra aprender inglês mesmo. onde eles moram? no Brooklyn, of course, num bairro onde só tem poloneses: Greenpoint. dizem que se você passar por lá e não tiver cara de polaco eles fazem muxoxo e te pegam na esquina porque eles se acham os donos do pedaço... e eu que não ia querer encontrar nunca na noite o pintor mais novo porque ele tem 2 metros de altura e 500 tattoos de presidiário russo nos braços, deus me livre! coragem eu não tive pra perguntar O-N-D-E ele fez aqueles desenhinhos...

já na França não é assim... os poloneses só não são considerados piores que os romenos e não botam banca não! os franceses dizem: "polaco é tudo bêbado, ce sont des ivrognes!" pelos franceses deveriam ter fechado as fronteiras pra Polônia, eles estão meio cheios do pobre leste europeu. mas a América é a terra da liberdade (ahah), então todo mundo pode chegar aqui e botar banca, quer dizer, latino não pode! latino não pode nunca nada... no entanto, quando os pintores não entendiam o que eu falava e vice-versa não era o francês, nem o italiano, nem o português que nos tiravam dessa miséria, era o espanhol! até eles entendem espanhol!!!

e os polacos daqui alimentam a colônia só comprando em lojas patrícias: de refrigerante à tinta de parede, tudo marca polonesa! perguntei sobre um desentupidor líquido e eles me indicaram um polônes que eu encontro em qualquer loja em Greenpoint! a carteira deles leva o brasão da terra natal e a mochila as cores da bandeira, mas voltar pra lá ninguém quer! e se integrar muito menos... c'est la vie à NY.

Thursday

California dreamin'


é só mudar pros States pra começar a ter sonhos esdrúxulos, tipo sonhar com Richard Gere, Paris Hilton ou Arnold Schwarzenegger, esse povo faz parte do seu dia a dia, digamos da sua realidade se alguém ainda acredita neste termo.

daí que eu sonhei que estava num bar meio Whisky a Go Go, no final dos anos 60, com Led Zeppelin e Mamas & The Papas tocando na mesma noite e a casa não estava lotada!!! e eu estava super feliz com um vestido de franjas cantando junto e mandando beijo pra mama Michelle, uma loucura. tudo bem, passou, mas hoje foi pior, sonhei que encontrava com o Mel Gibson na fila do supermercado e ele perguntava se eu tinha um quarter, HAHAHAHAHA!

Wednesday

hot rats new year!

pra mim literalmente será, afinal mudamos pra NYC e ainda ganhamos um quintal de gift, ou seja, se as estatísticas gritam que existem 8 ratos por pessoa, eu devo receber a visita de uma colônia inteira, JESUS-MARIA-JOSE!!! melhor nos afiliarmos a uma seita indiana adoradora de ratos e irmos fundo na toca... por sorte temos o Gummi, de repente ele ainda forma a dupla de extermínio "Staying' Alive" com o Bee-Gees, o gato da vizinha.

então a gente mudou pra Chelsea no último dia do ano, adorei! eu cansei do Brooklyn, muito fofo, muito Park Slope, muito família pro nosso gosto. muita bandeira americana, muito mexicano, muito russo, muito judeu, vcs não acreditam na quantidade de judeus ortodoxos que tem! na França, com aquele anti-semitismo roxo, a gente conta nos dedos as famílias, aqui é essa festa de gente vestida de urubu com cachinhos. a noite fica assustador, eu garanto! não acredito em fundamentalistas, em nada que seja opressor e que dite o que vc precisa fazer, portanto não acredito em religião e muito menos em pecado, acho tudo isso uma forma de controle, mas cada um que eleja o melhor pra si, é o que importa. eu talvez vá pra uma seita de ratos como disse acima, afinal se vc não pode vencê-los, junte-se a eles!

mas o Brooklyn também é longe de Manhattan, pegar 30' de metrô todo dia não estava dando, meu humor andava oscilando. Paris acostuma mal a gente, fazer o quê? quando a Sandra Regina foi me visitar em Paris deu um problema na linha em que estávamos e eu disse pra esperarmos um pouco porque os vagões estavam cheios. ela começou a rir e disse: você tá mal acostumada mesmo, vai pra São Paulo pra saber o que é vagão cheio, HAHAHAHAHA! e eu juro que pra mim os vagões realmente estavam entupidos, eles só não estavam com gente transbordando pelas portas. mas a vida é assim e é bom ficar mal acostumada, agradeço sempre!

mas então que nosso réveillon foi no Brooklyn num restaurante mezzo-chinês mezzo-francês, acredita? nem eu! o povo quer sempre levar a gente num lugar que tenha francês no meio, uma coisa! mas o restaurante em si era ótimo e a comida idem. quando faltava 1' pra meia-noite as garçonetes (chinesas, of course) deram uma taça de champagne (francesa, bien sur!), pra cada um dos clientes e fizeram a contagem regressiva. daí todo mundo brindou e foi só isso! eu achando que os nys fossem mais animados que os franceses, N-A-D-A!!! enfim, pra quem gosta de animação e festival de fogos, só no Brasil, Happy New Year!